quarta-feira, 5 de junho de 2013

Amor na mira

Ah, como o tempo passa, e com ele, passa tudo. Principalmente a ideia fictícia de que certas sensações podem ser rotuladas,  descritas e vendidas como uma fórmula quase exata, com mais ou menos um grau de variação (pra mais ou pra menos) de acordo com o “tempero” que se dá a ela.
Toda a primeira lembrança sobre algum acontecimento inaugural na minha vida me remete a sensação que tive antes de vivê-la. A ansiedade em sentir, as conjecturas, as perguntas para pessoas “mais experientes”, buscando arrancar, discretamente, alguma resposta, com a petulância e ares de quem diz: “não que eu não saiba disso, mas..”.
A própria descrição do sentimento, por si só, já não me atraia. Por que raios eu iria querer que meus joelhos tremessem, meu coração disparasse e a minha boca secasse? Era mais ou menos como sentir os famigerados enjoos  que tomavam conta de mim a cada viagem um pouco mais longa, mas com uma grande diferença: eu não saberia onde esse caminho iria me levar.
Haviam, claro, os que sempre garantiam que não era apenas uma sensação física, e que valia muito a pena, mas eu não me convencia, apesar de achar que deveria passar – e logo – por isso. E o dia chegou.
E como não se pode precisar o sentimento, também não conseguiria fazer com a forma como este se apresentou.  Prefiro descrevê-lo como uma mira, que necessitava de um alvo para acertar. Tão perdida em seu próprio contexto, que acabou acertando dois. Não houve tremores, mas o joelho amoleceu. Uma sensação de euforia, medo do fracasso. De ouvir um não quando nem se sabia, exatamente, o que seria um sim. 
E isso aconteceu em meio a um jogo de futebol, quando um dos meninos, que teimava em aparecer mais do que os outros, acabou sendo o “escolhido” pelo meu raio distorcido. O que me rendeu uma tarde de investigação, escondida em um canto do quarto dos meus avós, folheando  as páginas amarelas em busca de um número de telefone em meio a uma lista de cento e  vinte apartamentos. E encontrei. Primeiro toque, coração na boca e ele atende. Não tinha como voltar atrás. Não sei exatamente como, mas, o convenci a me encontrar na rua da minha avó para “batermos um papo”. Tampouco sei como consegui ir. Mas fui, com mais meia dúzia de amigas. Não sei ao certo se não lembro, ou se minha memória seletiva me permitiu apagar, mas vou poupar-lhes da conversa que se seguiu. Porém, seria honesto dizer que sai desse encontro com um grande troféu abacaxi, proporcional ao desfile de “pataquadas” pertinentes a uma menina de doze anos.
Mas a sensação de derrota perdurou até o dia seguinte. Quando minha mira acertaria um alvo que me renderiam quatro anos de chororô e o ingresso inevitável ao mundo dos eternos apaixonados.
Ah,  o amor. Há quem diga que ainda vale a pena. Eu ainda não sei, mas continuo apostando

Um comentário:

  1. acompanhei toda essa saga e continuo acompanhando até os dias de hoje...muito verdadeiro esse texto.
    continue apostando e seja feliz!!!

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