Ah, como o tempo passa, e com
ele, passa tudo. Principalmente a ideia fictícia de que certas sensações podem
ser rotuladas, descritas e vendidas como
uma fórmula quase exata, com mais ou menos um grau de variação (pra mais ou pra
menos) de acordo com o “tempero” que se dá a ela.
Toda a primeira lembrança sobre
algum acontecimento inaugural na minha vida me remete a sensação que tive antes
de vivê-la. A ansiedade em sentir, as conjecturas, as perguntas para
pessoas “mais experientes”, buscando arrancar, discretamente, alguma resposta, com
a petulância e ares de quem diz: “não que eu não saiba disso, mas..”.
A própria descrição do
sentimento, por si só, já não me atraia. Por que raios eu iria querer que meus
joelhos tremessem, meu coração disparasse e a minha boca secasse? Era mais ou
menos como sentir os famigerados enjoos que tomavam conta de mim a cada viagem um
pouco mais longa, mas com uma grande diferença: eu não saberia onde esse
caminho iria me levar.
Haviam, claro, os que sempre
garantiam que não era apenas uma sensação física, e que valia muito a pena, mas
eu não me convencia, apesar de achar que deveria passar – e logo – por isso. E
o dia chegou.
E como não se pode precisar o
sentimento, também não conseguiria fazer com a forma como este se apresentou. Prefiro descrevê-lo como uma mira, que necessitava
de um alvo para acertar. Tão perdida em seu próprio contexto, que acabou
acertando dois. Não houve tremores, mas o joelho amoleceu. Uma sensação de
euforia, medo do fracasso. De ouvir um não quando nem se sabia, exatamente, o
que seria um sim.
E isso aconteceu em meio a um
jogo de futebol, quando um dos meninos, que teimava em aparecer mais do que os
outros, acabou sendo o “escolhido” pelo meu raio distorcido. O que me rendeu
uma tarde de investigação, escondida em um canto do quarto dos meus avós,
folheando as páginas amarelas em busca de
um número de telefone em meio a uma lista de cento e vinte apartamentos. E encontrei. Primeiro
toque, coração na boca e ele atende. Não tinha como voltar atrás. Não sei
exatamente como, mas, o convenci a me encontrar na rua da minha avó para “batermos
um papo”. Tampouco sei como consegui ir. Mas fui, com mais meia dúzia de
amigas. Não sei ao certo se não lembro, ou se minha memória seletiva me
permitiu apagar, mas vou poupar-lhes da conversa que se seguiu. Porém, seria
honesto dizer que sai desse encontro com um grande troféu abacaxi, proporcional
ao desfile de “pataquadas” pertinentes a uma menina de doze anos.
Mas a sensação de derrota
perdurou até o dia seguinte. Quando minha mira acertaria um alvo que me
renderiam quatro anos de chororô e o ingresso inevitável ao mundo dos eternos
apaixonados.
Ah, o
amor. Há quem diga que ainda vale a pena. Eu ainda não sei, mas continuo
apostando
acompanhei toda essa saga e continuo acompanhando até os dias de hoje...muito verdadeiro esse texto.
ResponderExcluircontinue apostando e seja feliz!!!