sábado, 1 de junho de 2013

MINHA MÃE MANDOU, MAS E DAí?

Tudo começou quando eu ainda nem tinha consciência do que "existir e ocupar um espaço" significava. Na verdade ainda hoje tenho minhas dúvidas. 

De qualquer forma, não seria tão inimaginável prever que após um nascimento prematuro na década de 70, a sobrevivente de menos de 7 meses, se tornaria uma criatura insistente.

Já comecei pelo caminho mais difícil e nele me encontrei, ora por teimosia, ora por pura diversão. Mas claro, o destino muitas vezes foi mais forte. Sua primeira intervenção memorável foi aos meus 5 anos.

Estávamos apaixonadas, minha melhor amiga e eu, pela criança-menino mais fofo da sala. Não me lembro como a coisa se deu. Mas ele sabendo dos nossos interesses e, de alguma forma pueril, envaidecido pela dupla possibilidade, decidiu que escolheria com quem namoraria da forma mais madura possível.

E assim estávamos nós encostadas na parede enquanto ele lentamente começava apontando-nos o dedo: 

"- Minha mãe man-dou eu ba-ter..."
Eu contava junto, ansiosa, com receio do resultado... cada sílaba uma virada de alvo...
" ...eu esco-lhoes-ta da...

E o "da" - antecessor da escolha final e definitiva, parou em mim. F-I-M  D-O  M-U-N-D-O.

Mas por alguma simpatia que nunca vou entender qual foi - principalmente considerando a criança estranha que fui - ele interrompeu a seleção, disse que tinha contado errado e recomeçou de forma que a sílaba final coincidisse com seu dedo apontado para mim.

Foi a primeira vez que me apaixonei. Meu coração queria saltar pela boca, o dia ganhou uma cor diferente, e eu tinha uma criança menino que brincava comigo no tanque de areia. Sei lá quanto tempo depois num jantar com minha família anunciei:

"- Preciso conversar com vocês."
"- Fala filha, o que foi?"
"- Estou namorando!"

Risadas altas e sinceras, sabe-se lá por quanto tempo. Eu continuei firme. Naquele momento tudo era oficial: poderia continuar brincando com ele, fazendo desenhos juntos e algumas raras vezes até andar de mãos dadas. E assim se deu, por 1 ano inteiro...talvez menos ou mais já que tempo de criança nunca é preciso.

Fazíamos questão de sermos um par nas festinhas da escola. Lembro de uma ocasião em que fomos pedir para a "tia" nos destrocar de nossas duplas pré-selecionadas por ela. Queríamos ficar juntos. E tudo caminhava bem até que um dia, já maduros e na pré-escola ele quis "conversar comigo".

E assim, por um motivo tão relevante quanto o que o fez tomar sua decisão, terminamos para sempre: eu era muito alta!

5 comentários:

  1. está Lindo,sá...gostei da "maturidade" do menino-criança,achei ótimo!!! bjs

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  2. Que bom que gostou, Di. Você viu só que jeito prático de resolver as coisas? Depois crescemos, amadurecemos e complicamos tudo! hehehe

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  3. Adorável texto. Vi sua carinha na hora do "da", quando você anunciou o fato à família e ele acabou com tudo por causa de uma grande menina. Grande Sá.

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  4. Adorável texto. Vi sua carinha na hora do "da", quando você anunciou o fato à família e ele acabou com tudo por causa de uma grande menina. Grande Sá.

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  5. Fico muito feliz que tenha gostado, Vilminha. Lembro de pensar que o argumento de "ser grande" fazia, realmente, muito sentido. Que grande época!

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