Ela nasceu. Era a irmã do meio de seis filhos, apenas um homem. Era
bonita e muito meiga, quietinha. Mas algo denunciava que algo não ia bem, seus
olhos Sanpaku.
Em um dia de inverno, nos idos de 1954, um dos irmãos adoeceu: catapora.
Ai pegou geral, óbvio, todos ficaram com aquelas bolinhas purulentas que
coçavam até os cabelos, e aí vai um banho de camomila atrás do outro, para
acalmar a coceira e melhorar o pus... uma febrona, na época que baixar febre
era possível somente com banho de imersão e álcool na sola dos pés e na nuca. E
muita oração, pois esta sempre existiu, sempre adiantou, e continuará existindo
porque assim é.
Mas três irmãos pegaram aquela catapora forte, foram hospitalizados para
controlar a febre, em uma época em que quase não existiam hospitais, pelo alto
custo de internação (que persiste até hoje), e pela pobreza reinante (também,
infelizmente).
A febre de Sayoko aumentou. E aumentou em um grau que atingiu suas
meninges, e o impossível de uma catapora causar, aconteceu. E mesmo que não possamos
entender algumas coisas, elas só podem ser assim, e nos resta aceitar.
Os olhos Sanpaku se fecharam para esta vida e encheram de lágrimas outros
olhos. Mas se abriram em outro plano, para conhecer outros lugares e outras
pessoas. E hoje já sorriem, pelo passado, pelo presente.
E a maldição dos olhos Sanpaku, que são aqueles que têm a parte do globo
(a branca) superior ou inferior aparente, entre a íris e a pálpebra, persiste,
até hoje, por ela, por vários outros que também morreram cedo demais e deixaram
saudades.
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