sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Fim de mês. Eu não acredito.

Era aquele típico final de mês. Sem dinheiro, sem saco, sem nada pra comer. Saí do meu quartinho jurando chutar quem quer que cruzasse o meu caminho, no corredor daquele pensionato. Contava as moedas, torcendo para que, com sorte, eu  conseguisse comprar Doritos, já que não queria disputar um fogareiro de duas bocas com 30 mulheres. Não fosse por isso, teria optado por um miojo e menos 3 minutos enfadonhos daquele fim de semana que se arrastava.
Eu me xingava mentalmente. Me perguntava o quê, afinal, eu tinha ido fazer naquela cidade. Ganhava mal, morava mal e me sentia estagnada. Eu havia entendido o que era virar adulta e não achava a menor graça nisso. Ter todo o direito de ir e vir, mas, afinal, pra onde?
É engraçado perceber como certas situações se repetem e se adaptam a novos personagens. Tinha saído de uma casa onde moravam 6 -  cada qual com seu gosto musical, seus horários e manias - para morar sozinha e desfrutar do silêncio da “capital do meu país”. Eis que acabo em um pensionato com 30. Mulheres de todas as idades, culturas, horários, manias  que se separavam de mim apenas por paredes finas de compensado e disputavam o mesmo varal e o mesmo banheiro.
Uma dinâmica de almoço havia sido estabelecida aos sábados. Um grupo era responsável por comprar mantimentos, outro, por cozinhar, e o último, por arrumar a cozinha. Nenhuma das ideias me agradava. Não fazia parte do meu plano de morar sozinha, criar uma rotina doméstica com quem quer que fosse, e aquilo me enfurecia. Especialmente porque, depois de eu explicar mais de 20 vezes os meus motivos,  vários grupos se revezavam na minha porta até me convencer a fazer parte da reunião.
Era inverno, e como a gente havia extrapolado na noite anterior, a Genecelda, uma gerente nada bem humorada, havia desligado a força na hora do banho. Eu estava de mau humor. Muito mau humor. Cruzei a rua pedindo para não encontrar com um grupo de pessoas carentes, que moravam em um abrigo mantido pelo pensionato. Havia preparado um discurso e estava pronta para usá-lo. Não daria nada. Trabalhava muito e mal conseguia comer. Que varressem uma calçada, cortassem um jardim. Aquelas coisas que passam pela nossa cabeça quando não estamos precisando de emprego.
Atravesso a rua com o pulso cerrado. Não que fosse usá-lo pra golpear alguém, mas, talvez um sinal inconsciente do meu corpo de sinalizar aos presentes que eu não estava pra conversa. Apertei o passo  e não olhei  para eles, que agora começavam a cantar, em volta de uma fogueira.
Dois e cinquenta, dois e sessenta, dois e sessenta e cinco. Deu. Abro o pacote ali mesmo e começo a devorar 3 salgadinhos por vez. Sinto um leve alívio, que logo se transforma em um “grande soco” no estômago , assim que piso novamente fora do mercado. Olho para o grupo de novo. E, dessa vez eles me veem. Começo a ensaiar a minha fala, mas meus pensamentos são interrompidos.
- Ei, moça – o mais velho deles grita.
(Pqp, é agora que eu...)
- Quer cear com a gente? (“Cear “foi a palavra empregada. Acredite se quiser).
- N..n..não, obrigada.
- Não mesmo? Hoje conseguimos pão e até um vinho.

As lágrimas escorrem. Já não penso mais, apenas continuo andando.

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