segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Meu primeiro amor era loiro, bronzeado e dublado.


Sou de um tempo em que meninos e meninas estudavam em salas distintas. Isso parece prática da Idade Média, mas juro que foi há algumas décadas. Sempre muito tímida, falar com homens era algo fora do script. Para me fechar ainda mais feito uma ostra, entrei aos seis anos em um colégio de freiras, o Sion da Vila Maria, de onde só saí para cursar a faculdade, creiam, de Comunicações. Minhas amigas do Quarteto Fantástico são dessa época (uma história que merece outra “Situação Crônica”). As meninas não eram tão bobas, tinham lá suas paixões e namoradicos que encontravam na porta do colégio.

Uma vez, fui parar na diretoria com a Mari, uma das amigas do Quarteto, pois deduraram que a gente estava de namorico na entrada. Isso era proibido. O rapazinho era um vizinho gentil que nos acompanhou até a escola. Ao contrário de minha amiga tagarela, eu fiquei muda durante todo o caminho e mais muda ainda com a cara incrédula da madre superiora: “Vizinho? Olha o narizinho!”. Eu queria mais era desenhar e costurar modelitos para minhas bonecas. Era a pura verdade, mas a madre não via nada de puro nisso.  Até que as cobranças e os hormônios falaram mais alto para gostar de alguém. Mas quem?

A resposta veio do fundo do mar, mais precisamente, das ondas da televisão. Lá estava meu primeiro amor: loiro, bronzeado e dublado. O nome dele era Sandy, o menino do seriado Flipper, exibido nos anos 70. Eu tinha uns 12 anos e ainda morria de vergonha de meninos. Para minha sorte, ele morava a muitas milhas de distância, impossibilitando um encontro cara a cara. Confesso que nada foi planejado. Aconteceu ao mudar de canal. Então, mergulhei naquela aventura platônica, contando os minutos para chegar a hora de assistir às peripécias do golfinho Flipper com os irmãos Sandy e Bud. Tinha consciência de que aquela paixão morreria na praia. Mas, pelo menos, eu já podia dizer com toda a ingenuidade do primeiro amor: “Sim, estou apaixonada.”

Outras paixões vieram, às vezes em forma de boto ou com jeito de tubarão, fazendo com que eu me debatesse nesse mar de sentimentos. Bebi muita água. O último amor ancorou há uns 20 anos, sem semelhança alguma com o loiro bonitão da ficção. Baixinho, gordinho, simpático, está mais para ruivinho Bud e, como eu, é amante do mar. Qual é o segredo para não mudar de canal? Não sei exatamente. Sei que já demos boas risadas e braçadas. Enfrentamos todo tipo de maré e aprendemos a nadar juntos. E haja fôlego para seguir nossos dois filhos que nadam lá na frente. Arriscamos até no nado borboleta. E eu, que me escondia dos meninos, agora tenho três em casa.

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