sexta-feira, 7 de junho de 2013

DRAMA QUEEN E O TONTO BOY


#134 - Arte por Sheila Cristina
Inspirada no tema "PRIMEIRO AMOR"

Acrílico s/ papel, 2013



“Olha, é o seguinte, nós somos três, o garoto é um só. Vamos ter que dividir tá?”

Cada uma tomou posição e, aleatoriamente iam se espremendo na porta da classe, dançando e cantando como podiam. Tudo bem, contanto que todas dividissem a atenção que o espectador, ainda confuso, receberia.

A medida que se empurravam umas as outras, a dança ia piorando, a melodia, que nunca existiu realmente, ia atingindo o máximo do constrangimento. E claro, o garoto, era tomado por uma onda de calor e frio representados por suas bochechas coradas e seu olhar de espanto. Pobre tonto.

A coreografia acabou, a aula já vai começar e as três, agora já sem avistar o garoto, discutiam o grande problema que tinham em mãos.

“Quem vai namorar com ele?”

A resposta veio rápido.

“Deixa ele escolher então!”

Em poucos segundos o caso seria resolvido, ao menos para o garoto, que ao abrir a porta da sala e se deparar com tão sutil pergunta não teve dúvida alguma.

“É que não quero namorar nenhuma. Quero aquela, mas ela não me dá bola!

Disse apontando para outra garota da sua classe.

Fecha a porta, volta pra aula, disfarça o riso murcho e decide não gostar mais de nenhum garoto, (Drama Queen), muito menos um que exija toda essa competição, (Tonto Boy).

Afinal, tem cinco anos e é só a primeira semana de aula. Dali pra frente, encontraria tantos outros primeiros amores, em situações tão distintas e inesquecíveis. Nunca tentou compará-los, mas se via classificando cada um e se divertia.

“Os platônicos, os reais, os breves como um sopro, os intensos, os que pegam de surpresa e os que não avisam quando vão embora.”

Mas de uma coisas desconfiava, todos foram primeiros amores. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Amor na mira

Ah, como o tempo passa, e com ele, passa tudo. Principalmente a ideia fictícia de que certas sensações podem ser rotuladas,  descritas e vendidas como uma fórmula quase exata, com mais ou menos um grau de variação (pra mais ou pra menos) de acordo com o “tempero” que se dá a ela.
Toda a primeira lembrança sobre algum acontecimento inaugural na minha vida me remete a sensação que tive antes de vivê-la. A ansiedade em sentir, as conjecturas, as perguntas para pessoas “mais experientes”, buscando arrancar, discretamente, alguma resposta, com a petulância e ares de quem diz: “não que eu não saiba disso, mas..”.
A própria descrição do sentimento, por si só, já não me atraia. Por que raios eu iria querer que meus joelhos tremessem, meu coração disparasse e a minha boca secasse? Era mais ou menos como sentir os famigerados enjoos  que tomavam conta de mim a cada viagem um pouco mais longa, mas com uma grande diferença: eu não saberia onde esse caminho iria me levar.
Haviam, claro, os que sempre garantiam que não era apenas uma sensação física, e que valia muito a pena, mas eu não me convencia, apesar de achar que deveria passar – e logo – por isso. E o dia chegou.
E como não se pode precisar o sentimento, também não conseguiria fazer com a forma como este se apresentou.  Prefiro descrevê-lo como uma mira, que necessitava de um alvo para acertar. Tão perdida em seu próprio contexto, que acabou acertando dois. Não houve tremores, mas o joelho amoleceu. Uma sensação de euforia, medo do fracasso. De ouvir um não quando nem se sabia, exatamente, o que seria um sim. 
E isso aconteceu em meio a um jogo de futebol, quando um dos meninos, que teimava em aparecer mais do que os outros, acabou sendo o “escolhido” pelo meu raio distorcido. O que me rendeu uma tarde de investigação, escondida em um canto do quarto dos meus avós, folheando  as páginas amarelas em busca de um número de telefone em meio a uma lista de cento e  vinte apartamentos. E encontrei. Primeiro toque, coração na boca e ele atende. Não tinha como voltar atrás. Não sei exatamente como, mas, o convenci a me encontrar na rua da minha avó para “batermos um papo”. Tampouco sei como consegui ir. Mas fui, com mais meia dúzia de amigas. Não sei ao certo se não lembro, ou se minha memória seletiva me permitiu apagar, mas vou poupar-lhes da conversa que se seguiu. Porém, seria honesto dizer que sai desse encontro com um grande troféu abacaxi, proporcional ao desfile de “pataquadas” pertinentes a uma menina de doze anos.
Mas a sensação de derrota perdurou até o dia seguinte. Quando minha mira acertaria um alvo que me renderiam quatro anos de chororô e o ingresso inevitável ao mundo dos eternos apaixonados.
Ah,  o amor. Há quem diga que ainda vale a pena. Eu ainda não sei, mas continuo apostando

Capitão Kong


“A memória é uma ilha de edição” pertence àquele grupo de sentenças certeiras que parecem ficar vagando, no oceano suspenso e invisível de idéias, ao redor de nós, até serem pescadas por alguém. Os preguiçosos difusores da coletânea-clichê “O primeiro (amor, transa, sutiã, carrinho de rolimã, talho na testa, ou seja lá o que for...) a gente nunca esquece”, devem ficar intrigados com a frase fisgada pelo anzol de Waly Salomão. Poucos são aqueles que, talvez por alguma disfunção neurológica, guardam cada detalhe de tudo o vivenciaram ou viram – fotógrafos de memórias. Mas para estes o exercício, recordar o primeiro amor, provavelmente não sirva. Estão condenados a viverem aprisionados junto às lembranças que não dão lacunas à poetização leviana que nós, com cérebros menos competentes, temos o prazer de oferecer às sessões imaginárias do grande filme que protagonizamos. A eles restam as certezas.
Assim enfloro, firulo, como subjugo, o resultado que está por vir. A história começa assim – ou melhor, começa um pouco antes, assim:  
Sentado no chão da sala de casa, tenho à minha frente uma grande arca suporta a TV e centenas de fitas VHS da JVC, ou Maxell, em sua maioria, já defloradas. Ao lado da TV, trabalham dois vídeos cacetes e um emaranhado de fios acostumados a desafiar FBI Warning que iniciam os filmes alugados e advertem sobre as punições aos piratas. Sexta-feira é dia de alugar três filmes pelo preço de dois e devolver só na segunda, rebobinados, evidentemente. Com quatro anos, sem saber ler ou escrever, meu pai sempre traz um filme dublado para o filho caçula.
Ao som do portão se abrindo, corro para receber meu pai. Os cumprimentos à sua chegada nesses dias são protocolares. As mãos e olhos logo correm para o pacote que carrega os filmes. “Este é o seu, Gugu”. E assim meus pais garantiam pelo menos duas horas de sossego.
Foi numa destas sextas-feiras que meu pai chegou com este filme. Na capa, um macaco enorme, lutando contra aviões e helicópteros, com um pé em cada uma das torres do que eu viria saber, anos tarde, chamar World Trade Center.
Aos meus olhos, a viagem exótica à ilha desconhecida, o barco, os nativos e o macaco logo sucumbem à personagem resgatada pelos exploradores em sua jornada. Os nativos logo perceberam que não haveria oferenda melhor para acalmar a fera que Dwan (Jessica Lange). Linda, entregue com todas as pompas de estrela hollywoodiana ao gorila gigante, em seu banho de cachoeira, além do coração do símio, desfibrilou também meu pequenino coração. Fiquei vidrado. Gastei a cópia que fizemos e nunca mais pude ser o mesmo; ou pensar em viver apenas comigo mesmo.
Mas há muito, mesmo para Platão, neste disparate que mereça receber o louro de “primeiro amor”. Como disse, comecei um pouco antes. Este preâmbulo serve apenas de embasamento para o que viria a ser minha primeira viagem aos meandros deste “comboio de cordas (‘que gira a entreter a razão’) chamado coração”.
Reinava hostilidade na EMEI Guilherme de Almeida, próxima a minha casa. Os alunos do pré I, II e III se dividiam em grupos e alguns territórios eram demarcados pelos grupos – Faixa-de-Gaza-Fraldinha. O grupo que liderava chamava-se Thundercats e nossa base era embaixo da “árvore do sangue-do-diado” – por causa da seiva vermelha que escorria em seu tronco. Mas o amor é mesmo o mais poderoso antídoto à violência. Em meio às articulações de guerras de mamonas, campanas e emboscadas, incursões às lancheiras inimigas e operações-tachinhas na volta do recreio, estava claro que não tinha mais o mesmo entusiasmo.
Apenas suspirava, “Ah, a Cris”. A Cris era uma japonesinha de calça azul, camiseta listrada, como exigia o uniforme, e lacinhos ora vermelhos, ora amarelos, ora azuis prendendo os cabelos. Além de dividir a mesma sala de aula e as atenções da tia Marli todas as manhãs, morava na mesma rua que eu. Mas, como se sabe, naquele tempo os portões eram muito mais altos, os cadeados não tinham chaves e a rua bem mais comprida. Restava, às matinês, buscá-la de binóculos pelo vão da grade de ferro de meu portão.
Dediquei desenhos. Sentei ao seu lado nos recreios. Suei frio atrás de assuntos que puxava. Ela seguia impassível.
Convoquei uma reunião entre os Thundercats.
Sob a árvore do sangue-do-diabo, expliquei o plano. Não iríamos atacar os meninos da Fubem, ou da vila Ferreira. Nossa cruzada naquela manhã tinha outro propósito: eu ia beijar a Cris. Dividimos a turma. Um grupo ficou responsável por distrair a tia Marli; outro armou a insídia. Coitadinha. Enquanto brincava, nos aproximamos. Meus comparsas fizeram a cobertura, tornando aquele espaço do pátio o altar de oferenda pagã. Rompi o bloqueio, lutamos um pouco e, no chão, não pôde evitar o selinho que lhe dei.  
Ela chorou; eu corri – já arrependimento. De volta à árvore do sangue-do-diabo, talvez eu fosse o mais constrangido nas comemorações com o grupo. E, para o remorso ser ainda maior, na saída, com as bochechas e narizinho vermelhos pelo choro, veio em minha direção, ao lado da mãe, para entregar o convite de seu aniversário. Com o braço estendido, quando peguei o convite – feito a mão –, vi que seu dedinho trazia agora um Band-Aid. O choro era pelo beijo roubado, ou por tê-la machucado? Nunca soube, embora creia que tenha sido pelos dois.
Mesmo assim, continuamos amigos até o primário (e um caminhão da Graneiro) nos separar.
Outros tiveram Clark Gable, Marlon Brando, James Dean, Sinatra. Tive o King Kong como modelo de conquistador de cinema. Acho que foi isso.
Embora consiga editar um pouquinho do que aconteceu naquele tempo, fora da tela não há como rebobinar. Talvez, se pudesse, ao contrário de King Kong, não caísse nas mesmas armadilhas todas as vezes. Talvez em outras; piores ou melhores. Mas decidi: não queria mais o protagonismo de macaco grande e bravo. Sigo desemaranhando os cordões do peito, pouco a pouco, capitão da nau, com o leme solto em busca da próxima ilha desconhecida.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Primeiro Amor

por que será que a gente lembra do nosso primeiro amor a vida inteira?
essa pergunta é muito interessante, porque todas as pessoas do mundo devem faze-la,intimamente,em algum momento...
Lembramos SEMPRE com tanta exatidão:é como se  revivêssemos aqueles momentos, cada vez que eles surgem em nossos pensamentos;nas nossas íntimas viagens pela infância....
o primeiro olhar,a primeira vez que a pessoa tão amada te diz simplesmente:- "OI" e você  sai flutuando...
o frio na barriga,as pernas bambas,que de tão moles ,dão a sensação de que vão derreter ( e o pior,de que você vai  cair e "pagar o maior mico', Justamente na frente de quem??)
as mãos suadas e geladas,a a boca seca, o coração:: que de tão acelerado, parece que vai dar um impulso e saltar pra fora,para que todo mundo veja o que já está muito evidente: estamos amando!!!
e quando o  "ser" amado descobre nossos sentimentos?
ficamos "Pra Morrer,"quereremos nos esconder de tudo quanto é jeito:embaixo da mesa,atrás de um amigo,ou até mesmo no banheiro da escola...
muitas vezes, até tratamos mal,ou com descaso o nosso Grande  Amor,para tentar disfarçar(em vão)
os nossos verdadeiros sentimentos:coisa de Criança,Né?
e quando por sorte,ou por obra do destino e de Deus descobrimos que ele (ou ela),sente  o mesmo?
a criatura dos nossos sonhos,o príncipe (ou a Princesa) da nossa história também nos ama...
é tanta felicidade que nem dá pra acreditar.
temos vontade de gritar, de pular,de contar para cada pessoa que conhecemos:um por um,pra ver se
"cai a ficha" ou até mesmo anunciar em megafone...

  1. e por fim,quando finalmente nos reencontramos e não há mais o que fingir ou negar:

ah,é a melhor sensação do mundo,afinal,todo mundo já sabe mesmo!
o que mais falta acontecer?
o Beijo,o aguardado,desejado e inesquecível Primeiro beijo...o primeiro de muitos,porém,o mais CONSTRANGEDOR E ENVERGONHADO, PRIMEIRO BEJO,DO NOSSO PRIMEIRO GRANDE AMOR!!!

sábado, 1 de junho de 2013

Salve-me, Salve-me

Meu primeiro amor. Tenho que chacoalhar as conexões dos meus neurônios para me lembrar, embora nem faça tanto tempo assim (uhum).
Era um menino bonito, loirinho, de olhos azuis, nerd até a tampa. E eu, mais parecida com um alienígena, pés chatos com botinhas de soldado, corte de cabelo tigela, estrábica de óculos aro grosso, ou seja, super modernosa (em Marte).
E eu naquele sonho, naquela fantasia, tentando sempre conversar, estar perto, e nada. Até que houve uma virada de sorte azar, ou de azar com sorte.
Estávamos no recreio, eu tinha umas balas no meu bolso dei uma para ele, e peguei a Soft vermelha, que eu adorava. Ele me contou uma piada, foi de matar de rir, literalmente, a bala Soft entalou.
O menino ficou doido, batia nas minhas costas desesperadamente, e eu naquela aflição, naquela tortura, sem conseguir respirar, até que ele, em um ato heroico, me deu um soco forte nas costas que fez a bala saltar longe.
Sorrimos, um sorriso cúmplice. Eu na verdade queria, beijar, pular em seus braços e dizer meu herói. Mas só disse obrigada, vermelha de vergonha ou de bala Soft vermelha.

E acabou que não rolou nada entre nós, e, hoje em dia, ele nem tá bonito. E eu, bom, meus consertos de beleza surtiram algum efeito. Não sou mais de Marte, agora sou de Vênus!

MINHA MÃE MANDOU, MAS E DAí?

Tudo começou quando eu ainda nem tinha consciência do que "existir e ocupar um espaço" significava. Na verdade ainda hoje tenho minhas dúvidas. 

De qualquer forma, não seria tão inimaginável prever que após um nascimento prematuro na década de 70, a sobrevivente de menos de 7 meses, se tornaria uma criatura insistente.

Já comecei pelo caminho mais difícil e nele me encontrei, ora por teimosia, ora por pura diversão. Mas claro, o destino muitas vezes foi mais forte. Sua primeira intervenção memorável foi aos meus 5 anos.

Estávamos apaixonadas, minha melhor amiga e eu, pela criança-menino mais fofo da sala. Não me lembro como a coisa se deu. Mas ele sabendo dos nossos interesses e, de alguma forma pueril, envaidecido pela dupla possibilidade, decidiu que escolheria com quem namoraria da forma mais madura possível.

E assim estávamos nós encostadas na parede enquanto ele lentamente começava apontando-nos o dedo: 

"- Minha mãe man-dou eu ba-ter..."
Eu contava junto, ansiosa, com receio do resultado... cada sílaba uma virada de alvo...
" ...eu esco-lhoes-ta da...

E o "da" - antecessor da escolha final e definitiva, parou em mim. F-I-M  D-O  M-U-N-D-O.

Mas por alguma simpatia que nunca vou entender qual foi - principalmente considerando a criança estranha que fui - ele interrompeu a seleção, disse que tinha contado errado e recomeçou de forma que a sílaba final coincidisse com seu dedo apontado para mim.

Foi a primeira vez que me apaixonei. Meu coração queria saltar pela boca, o dia ganhou uma cor diferente, e eu tinha uma criança menino que brincava comigo no tanque de areia. Sei lá quanto tempo depois num jantar com minha família anunciei:

"- Preciso conversar com vocês."
"- Fala filha, o que foi?"
"- Estou namorando!"

Risadas altas e sinceras, sabe-se lá por quanto tempo. Eu continuei firme. Naquele momento tudo era oficial: poderia continuar brincando com ele, fazendo desenhos juntos e algumas raras vezes até andar de mãos dadas. E assim se deu, por 1 ano inteiro...talvez menos ou mais já que tempo de criança nunca é preciso.

Fazíamos questão de sermos um par nas festinhas da escola. Lembro de uma ocasião em que fomos pedir para a "tia" nos destrocar de nossas duplas pré-selecionadas por ela. Queríamos ficar juntos. E tudo caminhava bem até que um dia, já maduros e na pré-escola ele quis "conversar comigo".

E assim, por um motivo tão relevante quanto o que o fez tomar sua decisão, terminamos para sempre: eu era muito alta!